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Teaser | Enquanto Nevava

Olá, leitores!

Trouxe pra vocês um trecho exclusivo do meu #livronovo, que se chama Enquanto Nevava.

Se você ainda não tá sabendo nada sobre ele, é só clicar aqui para ir pro post em que conto um pouco mais sobre ele.

Foto: Wix Imagens

"Parecia lembrança de uma outra vida.

E talvez realmente fosse.

Quando o ar frio já havia dominado todo o interior do carro, levantei o vidro, aumentei o aquecedor e continuei seguindo meu caminho até a suntuosa construção que ficava ao final da rua, o casarão onde eu crescera física e emocionalmente, desde o fim da infância até o início da vida adulta.

Imponente como só ela, a mansão – que, na verdade, nem parecia tão homérica quanto eu pensava ser quando mais nova – permanecia exatamente a mesma de seis anos antes, com sua pintura nitidamente impecável e a mais bela decoração de Natal da rua, quiçá a mais encantadora da cidade.

Com luzes brancas delicadamente contornando o telhado, as escadas, cada uma das vigas e também adornando o jardim, tudo era muito bem estruturado de um jeito que somente uma pessoa poderia ter idealizado. Renas brancas contornadas por LED dividiam o espaço no jardim de inverno, no portão de ferro na entrada, bem como nos detalhes das janelas, o branco dos laços e o verde do festão dominavam a composição e antes mesmo de estacionar logo à frente, eu já ansiava em saber como havia ficado a área interna da casa.

Senti a palma de minhas mãos molhadas ao volante, o nervosismo tomando conta de mim sem que eu ao menos soubesse explicar o porquê.

Com uma olhadela no painel e estando devidamente sincronizado com o relógio de ponteiros na magistral torre da igreja, mais atrás, passava poucos minutos das cinco da tarde e eu fiquei contente de ter conseguido chegar bem a tempo do jantar.

Ao sair do carro e fincar os inexistentes saltos da minha bota na neve, ergui a cabeça e afirmei para mim mesma, mentalmente, que estava tudo bem eu estar ali. Não era nenhum crime hediondo eu ter encontrado o meu caminho de volta depois de tudo. A filha pródiga.

Mal dava para acreditar como, às vezes, esses seis anos pareciam uma mudança de estação, enquanto em outras vezes cada dia parecia um ano inteiro de saudade de quem fez com que eu sentisse verdadeiramente pertencer a algum lugar.

Costumeiramente, haveria uma ou duas pessoas trabalhando nos arredores da casa que poderiam permitir a minha entrada, mas eu sabia que, estando muito perto do Natal, todos os colaboradores da casa estariam com suas próprias famílias e, com exceção de um único funcionário que estaria lá para guardar e proteger a integridade física da matriarca – vulgo, babar o ovo –, eu encontraria apenas o clã Adkins ali recluso.

Por isso, respirei fundo algumas vezes, fui até o pequeno aparelho interfone com câmera e apertei o botão, que fora atendido tão logo começara a chamar.

Sorri para a câmera ao ouvir a voz grossa e comedida atender e acenei com uma das mãos, enfiando a cara na frente da minúscula lente e tendo rapidamente a minha entrada liberada. Empurrei o portão após o clique e segui o caminho das pedras, sendo bombardeada por mais dessas memórias antes que eu atingisse a porta ornamentada. Memórias essas que eu tinha certeza de que me acompanhariam por quanto tempo durasse a minha estadia ali.

Já aberta a porta, o cheiro que vinha de dentro me recebeu primeiro. Uma mistura de aromatizantes, um perfume tão característico de árvore fresca, canela suave e comida caseira, a combinação única e perfeita para aquela época do ano e que despertavam tantos sentimentos bons. Mais do que nunca, eu o reconhecia como cheiro de casa."



Letícia Kartalian - foto 2021
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