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Resenha | Vida e Morte (Twilight #05), de Stephenie Meyer


Primeiro, quando soube de Life and Death, Crepúsculo com gêneros trocados, novos nomes e etc, na madrugada do dia 6 de outubro, eu estava com medo. O que diabos essa mulher tinha aprontado? Pensei, sinceramente, em não ler. Naquela manhã – e eu só fui ver isso no meio da tarde – quando ela disse o porquê da troca de gênero dos personagens, qual era a intenção dela com isso, quis beijar e abraçar, dizer que nem tudo estava perdido e que, não importava o que ela já tinha dito ou feito em relação à saga e aos seus fãs, eu sempre seria grata a ela por ter escrito Crepúsculo e, com o filme, ter me feito virar leitora, ficwriter e, hoje, escritora.

Eu disse que leria, sim, o livro, naquele mesmo dia ele já estava no meu Kindle e lá fui eu começar a ler.

Aí, dei uma enrolada básica, porque (1) eu não tinha conseguido desconectar o Beau da Bella, estava sempre ligando as ações dele às dela, e (2) eu estava com a sensação que eu odeio de já conhecer a história – mais por causa do filme, visto que li Crepúsculo em 2008 – e fui deixando ele de lado e lendo outras coisas enquanto isso, até que eu disse “chega!” e voltei para o livro para ver no que dava, quase um mês depois de ter começado a ler.

Foi só no quarto ou quinto capítulo que eu consegui começar a desconectar Vida e Morte de Crepúsculo, me adaptar os nomes dos personagens, e aí sim consegui prosseguir com a leitura facilmente e realmente curtir o que eu estava lendo.

Todo mundo conhece a história, seja pelos livros, pelos filmes ou pelas críticas soltas por aí, então pulemos essa parte.

O humano da história se chama Beaufort – Beau – e é a versão masculina da Bella. O vampiro agora é Edythe Cullen, uma mulher. Todos os personagens, com excessão de Renée e Charlie, têm gêneros trocados, ou seja, quem em Crepúsculo era do sexo feminino em Life and Death é do masculino e vice-versa.

— Ninguém te contou ainda? A vida não é justa.

— Acho que já o uvi isso em algum lugar — concordou ela secamente.

A autora adaptou várias cenas pra que se encaixassem na visão de um menino, mas em essência, Beaufort é Bella completamente e Life and Death é Twilight, tirando algumas coisas e colocando outras.

Eu não vou dizer que é difícil acreditar que o Beau seja um menino com aquela personalidade, se é isso o que você está esperando. A Steph quis mudar a menor quantidade de informações possível para não tirar a essência do personagem, caso contrário não faria sentido essa troca de gênero para afirmar o ponto que ela queria. Sério, gente, desde quando todos os meninos precisam ser iguais? Ser ou ter pontos femininos em sua personalidade não deveria ser nenhum crime e se isso foi passado no livro de forma intencional ou não eu não sei, mas sei que gostei de fugir desse estereotipo de o cara precisar ser o fodão para algum tipo de autoafirmação. Foi diferente, claro que foi. Não é todo dia que aparece alguém corajoso o suficiente para colocar traços femininos em um personagem que automaticamente as pessoas esperam que seja a epítome do macho alfa.

— Eu cuido dele — disse Edythe, com o sorriso ainda na voz. — Pode voltar para a aula.

— O quê? Não, eu tenho que…

De repente, um braço fino e forte estava embaixo dos meus, e eu estava de pé sem nem perceber como cheguei lá. O braço forte, frio como a calçada, me segurou com força contra um corpo magro, quase como uma muleta.

Meus olhos se abriram de surpresa, mas só consegui ver o cabelo bronze no meu peito. Ela começou a andar, e meus pés se embolaram tentando acompanhar.

No entanto, não posso negar que eu não me apaixonei pelo Beau como me apaixonei pelo Edward. Talvez tivesse acontecido se o livro tivesse ponto de vista duplo. Ou não.

Eu não me lembro de tantos detalhes de Crepúsculo quanto eu gostaria, mas eu senti que a Edythe é uma versão mais suave de Edward, se apaixonando por um humano; e brigando com o Royal por isso e a ligação com o Archie.

E tá aí algo que eu AMEI: Archie e Jessamine. Acho que de todos os personagens, eles foram os que eu menos senti a mudança de gênero, talvez porque Alice e Jasper formam uma unidade não importa como.

Jessamine estava sentada à mesa no canto, os olhos na TV, mas sem o menor sinal de interesse. Archie foi até ela e passou a mão pelo cabelo cor de mel dela.

Eu adorei ver a Esme como Earnest, porque a história dela é bem comum entre as mulheres – casada com um cara alcoólatra/agressivo, acaba meio depressiva por perder um filho – e ver isso num homem foi simplesmente perfeito. E isso me faz pensar, mesmo sendo incomum para a época – década de 80, quase 90 – em como seria se a Steph tivesse também mudado os gêneros dos pais da Bella. Seria interessante.

O final é o que é completamente diferente do original e reforça o que Stephenie já disse sobre não haver continuações para Life and Death. Não há abertura para isso – ao menos não seguindo o enredo dos três livros seguintes a Crepúsculo.

Não foi uma surpresa, no entanto, e eu já li os últimos capítulos com uma atenção maior por conta disso e, apesar de eu ter achado que tinha muita informação em determinado momento, eu gostei do final alternativo, gostei de saber como seria.

Como feminista, a troca de gênero dos personagens foi válida – para mim.

— Tipo, conseguiria levantar duas toneladas?

Ela pareceu meio abalada com meu entusiasmo.

— Se eu precisasse. Mas não sou de demonstrações de força. Isso deixa Eleanor competitiva, e nunca vou ser tão forte assim.

— Quanto?

— Sinceramente, se ela quisesse, acho que conseguiria levantar uma montanha sobre a cabeça. Mas eu jamais diria isso perto dela, porque aí ela teria que tentar.

Em muitos pontos, como alguns comentários da Edythe sobre a força da Eleanor ou a vida humana do Earnest, são exemplos de que a Stephenie realmente quis ir contra alguns aspectos da nossa sociedade, mas o contrário também acontece com algumas mudançs que ela fez no Beau, infelizmente. Eu li alguns comentários bem machistas em blogs e no Goodreads e, de forma alguma poderia concordar com aquilo; mas também li comentários de feministas sobre o livro e deixo aqui um vídeo (em inglês e sem legenda) falando sobre alguns aspectos não tão feministas nas mudanças que a Steph fez em Life and Death, porém ela só fala sobre essas partes e descarta o que poderia ser feminista. De qualquer forma, vale dar uma conferida e ter, quem sabe, outro ponto de vista.

Talvez, e só talvez, se eu me lembrasse de todos os detalhes de Crepúsculo, ou seja, se eu tivesse lido o livro recentemente para comparar com Life and Death, eu tivesse mais críticas a fazer – inclusive a questão dos gêneros – o que não é o caso, portanto eu só tenho os filmes e a vaga memória de uma leitura feita em 2008 para comparar.

Ainda na mesma linha do talvez, se eu analizasse todos os livros da série... Não, eu ainda não penso que Crepúsculo seja sexista.

Ah, e quem pensa que Edward e Bella não têm uma relação saudável em Crepúsculo provavelmente vai continuar pensando com Life and Death.

— Não vê, Beau? Uma coisa é eu ficar infeliz, outra bem diferente é você se envolver tanto. — Ela virou os olhos angustiados para a estrada, suas palavras fluindo quase rápidas demais para que eu entendesse. — Não quero ouvir que você se sente assim. É errado. Não é seguro. Vou machucar você, Beau. Você vai ter sorte se sair vivo.

Como fã de Crepúsculo, gostei da experiência. Confesso que eu tinha certo medo de reler Crepúsculo e não mais gostar, afinal eu não tenho mais 13 anos, penso completamente diferente do que pensava na época em que li e nem tenho mais o costume de ler YA e/ou fantasia, mas a leitura de Life and Death me mostrou que eu realmente gosto dessa série e dos personagens, eles me marcaram, afinal, e representam muito na minha vida. Hoje, mais do que dois anos atrás, por exemplo, eu aceito um pouco melhor as críticas em relação aos livros que gosto – quando bem embasadas – e penso muito antes de dizer qualquer coisa quando não concordo, ao contrario de antes onde eu saia em defesa da saga não importando sobre o que fosse. E é assim com Life and Death.

Crepúsculo sempre foi e sempre será polêmico de alguma forma – assim como Cinquenta Tons de Cinza, por exemplo. Há quem goste e há quem não goste. É assim com os livros, com os filmes, com o mundo criado pela Stephenie e até mesmo com a escolha de atores para o filme. Leia Life and Death e tire suas próprias conclusões.

Por fim, o que mais leio por aí é: “Por que ela escreveu esse novo livro? Ela já não tem dinheiro o suficiente?” e eu digo: Por que importa o motivo de ela ter escrito esse livro (e Stephenie já respondeu isso no próprio livro e em entrevistas sobre o lançamento dele, joguem no Google!)? Deixa eu dizer uma coisa que talvez você não saiba: escritores escrevem. Não importa quão rico ela seja, se ele ama ou não ama o que faz, em algum momento poderá publicar algo novo e não precisa ser questionado pelo motivo que a fez escrever determinada coisa. É o trabalho dela. E se trabalhar nessa versão fizer a Steph se reconectar com Twilight e resolver, finalmente, escrever Midnight Sun, ótimo. Se não, tudo bem também.

Título: Vida e Morte

Título Original: Life and Death Série: Crepúsculo #05 Autora: Stephenie Meyer Editora: Little, Brown / Intrínseca Páginas: 442 (no original) Ano: 2015 Classificação: 4,5/5

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