Crônica | Eu só preciso escrever
Perdi a conta de quantas vezes escrevi, apaguei e reescrevi o mesmo texto na caixinha que pergunta "No que você está pensando?", às vezes sendo mais agressiva, às vezes amenizando minhas palavras.
Vocês realmente não querem saber o que eu estou pensando. Na verdade, eu mesma gostaria de NÃO estar pensando nisso.
Se eu tivesse apertado o botão "Publicar" e as pessoas certas – ou erradas, dependendo do ponto de vista, ou seja, àquelas a qual a mensagem era destinada – vissem, sairiam magoadas.
Mas elas me magoam. Demais. E dói, por mais que muitas vezes eu não demonstre. Então porque eu me importo tanto com o fato de que posso machucar alguém com minhas palavras se ninguém faz o mesmo?
Eu não divido os meus sentimentos na maior parte de tempo. Eu explodo, às vezes, mas é só nesse momento em que eu deixo que percebam minhas lágrimas.
Ninguém vê quando, de madrugada, estou chorando em silêncio. Ninguém nota, só de olhar para o meu rosto, que aquele não é um bom dia. Ninguém nota que a minha produtividade vem caindo consideravelmente nos últimos tempos. Eles sequer sabem quando sou produtiva.
Eu sinto. Por mais que algumas pessoas digam que eu não tenho coração, que não penso no próximo e que sou dura, fria. Não sou isso. Apenas sofri demonstrando o que sentia e hoje prefiro guardar. Quem me conhece, e conhece de verdade, sabe dos meus sentimentos, de algumas feridas, algumas sabem mais do que eu gostaria que soubessem.
Eu guardo os meus sentimentos, sim. Porque ninguém se importa.
Então porque eu me importo tanto com o fato de que ninguém se importa?
Eu também não falo. Porque não adianta, não de verdade. Vou parecer uma mãe ou uma tia falando, mas é bem isso de "entrar por um ouvido e sair pelo outro".
E por isso eu escrevo. Porque eu sinto demais, eu penso demais e preciso colocar para fora. Eu nem preciso compartilhar com alguém, eu só preciso escrever.
Funciona.
Até o próximo acontecimento, e eu preciso fazer tudo de novo. De novo. E de novo.
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