Ela/Ele
Ela amava o inverno.
O clima que causava os mais belos arrepios nele era, ainda assim, o sopro que soava como poesia nos ouvidos dela. Como a rouquidão da voz dele pela manhã.
Ele preferia o verão.
Mas, apesar de amar o calor do sol tocando sua pele, não podia negar que eram as segundas e terceiras intenções envolvendo biquíni e pouca roupa que falavam mais alto.
Ela trocava o calor do sol pelo calor humano. Não se dava muito bem com as pessoas, mas se mantinha o mais perto possível daquelas com quem se dava.
Ele sabia abraçar. E era conhecido como dono dos abraços mais quentes que alguém poderia lhe dar. Recebia, acolhia e distribuía.
Ela carregava o verão nas mãos e no olhar. Com as mãos, esquentava as dele, com os olhos, aquecia-lhe a alma.
Ele pensava nela delicada como uma valsinha. Tocada em 3x4, o arranjo compassado pelo toque preciso de um piano e um quarteto de cordas melodiosamente harmônico.
A música dos românticos também era o estilo ao qual ela mais gostava; uma que era acarinhada por mãos hábeis e dedos longos de musicistas como ele e apreciada por um seleto grupo de pessoas. Não que se orgulhasse disso.
Ele já passara noites em claro escrevendo versos propositalmente ingênuos sobre ela, porque éramos muito bobos estando apaixonados. E não era a toa que enxergava nela uma – ou mais – canções.
Clássica, retrô ou vintage como um acordeon francês, ela podia não ser a mais doce e nem a mais prefeita das composições, mas era leve, fluida, uma inspiração pronta nas mãos dele, um poeta.
*texto baseado na música Ela/Ele, de Sandy.
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